#TORTURA DO SONO – PARTE I

São 06h15 da manhã.

E no meio de algum cansaço e muita frustração, entendi que era a altura ideal pra vos escrever sobre este tema.

Se clicaram neste artigo na expectativa de resolverem as inquietações do sono do vosso bebé, já devem ter desmotivado depois desta “introdução”.

Mas esta é a realidade: podemos estudar o assunto, podemos socorrer-nos de ajuda profissional, podemos reproduzir na íntegra tudo o que nos aconselham, mas o sono do bebé será sempre imprevisível.

Haverá dias melhores, dias em que achamos que, finalmente, começamos a controlar a situação e outros em que corre tudo mal e que parece que volto tudo à estaca zero.

#Sono complicado

A complexidade do sono de um bebé é, para mim, algo perturbador. Não só pelo cansaço que provoca (Ok. Talvez em parte também seja por isso…) mas, sobretudo, pela total incapacidade que sinto em controlar a situação.

Sou uma mulher pragmática, que gosta da filosofia “causa-efeito”: “Se eu fizer isto, então acontece aquilo”.

Não há “receitas” para controlar o sono dos bebés. E essa sensação de não “controlar” o processo, “descontrola-me” as emoções.

A Alice é um bebé tranquilo. Chora pouco, não teve cólicas e adapta-se bastante à vida agitada dos pais.

E olhem que não lhe facilitamos a vida!

Entre viagens Porto-Lisboa-Porto, programas que fazíamos a dois e que passamos a fazer a três, presenças em alguns eventos comigo, posso dizer que, com apenas 4 meses, a Alice tem uma vida bastante preenchida.

Sei que esta agitação é inimiga das rotinas e, consequente, dos sonos. E, por isso, culpo-me bastantes vezes pela dificuldade que a Alice tem em dormir.

#1 aos 4 meses

Durante o 1.º mês de vida, e como quase todos os recém nascidos, a Alice mamava e dormia. Chegava a adormecer na maminha! Com luz, barulho e confusão.

Nunca dormiu uma noite inteira seguida. Acordava sempre para mamar umas três ou quatro vezes por noite.

As primeiras semanas foram muito desgastantes. Noites mal dormidas, com despertares constantes, entre mamadas, arrotos, fraldas, sobrava muito pouco tempo para descansar.

Nessa altura falei com o Pinga Amor, que me aconselhou, durante a noite, a dar “maminha deitada”.

A Filipa alertou-me que o cansaço acumulado podia ser muito perigoso e que durante a noite, deveria prevalecer a “lei da sobrevivência”: dar de mamar deitada, quase sem despertar, mudar de fralda só se houvesse cocós, pôr a Alice a arrotar apenas se houvesse desconforto, deixa-la dormir na nossa cama, se fosse confortável para todos.

(Sobre este assunto, o Pinga Amor fez umas publicações muito interessantes no IG:

)

Conseguimos, com estas dicas, controlar os sonos nocturnos. A Alice desperta para comer, vai para a maminha e adormece naturalmente em seguida.

As sestas é que continuam muito críticas!

A Alice foi crescendo e ficando cada vez mais exigente nas condições do sono.

Entre picos de crescimento e descoberta do mundo (passa o dia atenta a tudo o que a rodeia e com espírito explorador), a resistência para dormir durante o dia começou a ser, gradualmente, maior.

Já não adormece em qualquer lugar. Precisa de silêncio, pouca luz… É difícil convencer a Alice que dormir é bom e lhe faz bem.

Desde os 2 meses, que é raro o dia em que não há birra para adormecer: choro, gritos, braços e pernas agitados… E parece que este cenário piora com o tempo.

Nós fazemos o que podemos: muito colo, passeios pela casa fora, canções de embalar, fraldinha na cara…

A Alice adormece quase sempre ao colo. E se a tentamos deitar depois de adormecer, arregala logo os olhos como se adivinhasse a nossa intenção!

Muitas vezes a solução é mesmo ficar com ela a dormir nos nosso braços e, com isso, arruinar as nossas costas e todas as rotinas do dia a dia que ficam por fazer.

Este panorama agrava-se quando não estamos em casa. Quando vamos almoçar ou jantar fora, quando vamos visitar alguém, quando andamos a tratar das compras ou de algum recado.

A Alice até adormece rápido no carro, só que desperta com a mesma facilidade! Basta desligarmos o motor.

Se a viagem for longa, ela ainda descansa. Mas quando são curtas, o processo “adormecer/despertar” deixa-a muito inquieta. Ainda aguenta uns minutos bem disposta e sorridente, mas acaba sempre por saturar-se depressa e fazer uma birra daquelas que me fazer ter vontade de pedir desculpa a toda a gente.

#Consulta do Sono

Li algures que é a partir dos 3-4 meses que os bebés conseguem começar a adoptar uma rotina do sono.

Percebi que estava na altura ideal para visitar a Dr.ª Andreia Neves (especialista em sono).

Queria perceber alguns comportamentos da Alice, o que estava a fazer bem e o que podia fazer melhor.

Entrei no consultório com a mesma queixa de 99,9% dos pais:

“Andreia, a minha filha resiste muito ao sono!”

A Andrei sorriu e pediu para partilhar os comportamentos mais habituais da Alice.

Alertou-nos que não há estratégias infalíveis para as questões do sono. Que cada bebé é um bebé e que os comportamentos do sono vão variando muito com o seu crescimento.

Deu-nos algumas dicas para aligeirar as birras e ajudar a Alice a adormecer.

1- Evitar que a bebé chegue a níveis de sono avançados. Ou seja, antecipar o seu cansaço e dar condições para que possa adormecer ainda antes de ficar irritada.

O ciclo de sono de um bebé tem uma duração de mais ou menos 1h e deve ser nessa altura que os começamos a preparar para dormir (+/- 60 minutos depois de acordarem).

2- Dar boas condições de sono à bebé. Não é suposto que os bebés durmam com luz e barulho.

Tal como nos adultos, a melatonina (hormona do sono) liberta-se mais facilmente no escuro e no silêncio.

Também nos fez algumas perguntas sobre como a Alice dormia, para despistar eventuais dificuldades respiratórias que podem influir muito na qualidade do sono.

“Mas Andreia, a Alice adormece quase sempre ao colo… devemos evitar?”

Descansou-nos. O colo não faz mal aos bebés. Tranquiliza-os, dá-lhes segurança.

O problema do colo é que limita os pais, que acabam por ficar “reféns” do sono e descanso dos bebés.

Combinámos que durante as manhãs (período em que a Alice adormece com mais facilidade) iríamos tentar adormece-la na sua cama ou no ninho, onde ela pudesse permanecer sem perturbações ou movimentos.

Os bebés têm dificuldades em passar para patamares de sono profundos e basta uma pequena agitação, como “deitar o bebé” para o fazer despertar. Por isso é tão importante garantir condições regulares e ambientes sem agitações.

Ao final do dia é sempre mais complicado. Os bebés estão mais cansaços, já foram sujeitos a uma série de estímulos e a inquietação é maior.

Nessa altura o colo pode e deve ser uma solução. Devemos mimar o bebé e evitar sempre que adormeça a chorar.

A teoria de “vou deixá-lo a chorar no berço que há-de adormecer sozinho” é altamente prejudicial para o bebé. Vai adormecer de cansaço, stressado, e a qualidade do sono não será adequada.

É sempre preferível mimar, dar colo, tentar sossegar as birras e garantir que o bebé adormece o mais tranquilo possível.

“Mas a Alice só faz sestas de meia hora…”

Há bebés que são adeptos das “power naps”!Sestas curtas, mas revigorantes.

É importante perceber como o bebé acorda: sorridente, a choramingar?

A Alice acorda quase sempre a sorrir! Olha para mim com aqueles olhos redondos e de sorriso rasgado, que mesmo que eu a queira adormecer outra vez, já não consigo, porque só me apetece enche-la de beijos!

É raríssimo acordar a resmungar. Quando assim é, geralmente tem algum desconforto na barriguinha ou vontade de arrotar.

Nessas alturas pego nela sem grandes sobressaltos, encosto-a bem a mim, à espera de um arrotinho (ou de algo menos feminino). Continuo sempre a embala-la na esperança que volte a pegar no sono. Mas nem sempre consigo…

#Rituais do Sono

Apesar destas orientações, continuamos na descoberta.

Já percebemos que não a podemos deixar acordada muitas horas. Mesmo quando está desperta e bem disposta, tentamos sossega-la e “força-la” a dormir.

Entenda-se por forçar: deitar no colo, tentar a chupeta, tapar a carinha com uma fralda, embalar com palmadinhas no rabo, cantar baixinho…

Há quase sempre birra nesse momento. E o tamanho da birra é proporcional ao número de horas a que está sem dormir.

Também temos uma caixa de música de puxar um cordel, que a relaxa quando o choro é maior. Gravei o som dela no telemóvel e anda sempre comigo. Já me ajudou em algumas situações constrangedoras de birra fora de casa.

Descobrimos, recentemente, um ursinho da Chicco, oferecido pelos avós no Natal, com músicas e luzes tranquilizantes, que tem dado uma ajuda.

Não resolve tudo! Mas fixa a atenção dela quando está mais arreliada e facilita o processo de acalmar.

#Situação actual

Estes dias no Porto “descontrolaram” um bocadinho a situação.

Foi muito tempo fora de casa, muitos programas na rua, muitas visitas… Estímulos constantes e um mundo novo para descobrir, que aos 4 meses se torna muito aliciante.

As sestas continuam inconstantes e as noites pioraram muito. Se já estava habituada a acordar de 2h em 2h de madrugada para dar de mamar, estas semanas os despertares nocturnos acentuaram-se. A Alice anda a dormir mais inquieta, acorda muitas vezes, demora mais a adormecer… parece que não descansa.

Deve ser uma mistura de tudo…

Espero, sinceramente, que o regresso a Lisboa e as rotinas habituais melhorem a situação.

Para já, muito corrector de olheiras e dose de paciência extra.

Já aceitei que o sono será um desafio durante muito tempo.

E quando me voltar a sentir perdida, vou voltar à Dr.ª Andreia pra me tranquilizar.

Pelo menos para evitar o sentimento de culpa e aceitar que faz parte. É difícil, nem sempre conseguimos, mas está tudo bem!

Não se sintam sozinhas.

Um grande beijinho,

Mariana – @missfit.insta

Informações:

Dr.ª Andreia Neves

  • Gimnogravida – Porto
  • Centro Pre e Pos Parto – Lisboa